A Grécia Antes dos Gregos: O Paleolítico no Egeu
No
Egeu, há vestígios de acampamentos paleolíticos somente na Grécia
Continental (Épiro, Tessália, Beócia, Élida e Argólida), em algumas
ilhas próximas ao continente e em Chipre. Não há vestígios anteriores ao
Neolítico na costa ocidental da Anatólia, Creta ou Cíclades.
Até 35.000 AP
Até
onde sabemos, os primeiros seres humanos visitaram a Península
Balcânica há mais de 100.000 anos. Viveram em Petralona, na Calcídica, e
na ilha da Eubéia, ao norte da Beócia. O mais antigo vestígio humano
encontrado até hoje é um crânio fossilizado conhecido por "Petralona 1".
A maioria dos cientistas acredita, após anos de vivas controvérsias,
que ele pertenceu a um Homo heidebergensis, espécie imediatamente
antecessora do Homo sapiens. A datação desse crânio é muito
controvertida e acredita-se, no momento, que ele tenha pelo menos
125.000 anos. Os primeiros intrumentos líticos deixados na Grécia são os
da Caverna Asprochaliko, a sudeste da Argólida, datados do fim do
Paleolítico Médio ou do início do Paleolítico Superior. Assinalam a
época em que viveram os últimos representantes do H. heidelbergensis, o
Homo neanderthalensis e também os mais antigos ancestrais do homem
moderno, o Homo sapiens, em território grego. Segundo Harvati et. al.
(2003), no início do Paleolítico Superior (c. 44.0000-38.000 anos AP),
dentre as comunidades do sul do Peloponeso, viveu pelo menos um grupo de
Homo neanderthalensis. Vestígios humanos (um dente) e instrumentos
líticos do tipo mousteriense foram encontrados na Caverna Lakonis,
situada no litoral sudeste do Peloponeso, perto da moderna cidade de
Gytheion.
35.000 a 10.000 AP
Da
cultura dos grupos humanos que vaguearam durante o Paleolítico Superior
pelos territórios gregos conhecemos somente os instrumentos de pedra
lascada, semelhantes aos de outras partes da Europa Ocidental e
Oriental. Um dos mais bem conhecidos sítios arqueológicos dessa fase é a
Caverna Franchthi (Argólida), ocupada provavelmente a partir de 35.000
AP, mais ou menos. Todos os caçadores e coletores paleolíticos eram
nômades, e portanto não se pode falar ainda em "povoamento" da Grécia ou
de qualquer outro lugar. É bom frisar, aliás, que esses pioneiros,
culturalmente ligados aos povos paleolíticos da Europa Oriental, não
tinham nenhuma ligação com os "gregos" dos períodos históricos
subsequentes, aparentados às culturas neolíticas da Ásia Ocidental. A
obsidiana[1] da ilha de Melos, a 150 km do continente, começou a ser
utilizada na confecção de ferramentas a partir de -9000, pelo menos
(Caverna Franchthi, Argólida). Isso demonstra que, apesar de seus
recursos primitivos, os caçadores-coletores paleolíticos eram capazes de
atravessar o litoral à procura de matéria-prima adequada. Não há,
entretanto, evidências de ocupação das Cíclades, a despeito da presença
da obsidiana de Melos na Argólida. As únicas ilhas com vestígios do
Paleolítico são a Eubéia, Corfu e Zacinto, próximas ao continente. Na
península balcânica e ilhas vizinhas não há obras comparáveis à arte
mural e portátil, às estatuetas femininas com atributos sexuais
proeminentes, aos falos ou aos sepultamentos encontrados nas culturas
paleolíticas das demais partes da Europa e Ásia. A ausência de
evidências diretas, no entanto, não significa necessariamente que os
caçadores paleolíticos da Grécia Continental não tivessem as mesmas
crenças ou a mesma capacidade artística de seus contemporâneos de outras
regiões. A cultura material do Paleolítico europeu é notavelmente
homogênea, e assim pode-se imaginar simplesmente que as evidências
existem e ainda não foram descobertas ou, então, que a constante luta
pela sobrevivência não tivesse deixado aos caçadores-coletores da
península balcânica tempo suficiente para expressá-las. Alguns
instrumentos de pedra lascada, vestígios de caçadores paleolíticos,
foram encontrados em uma caverna próxima a Liopetri, no sul da ilha de
Chipre. Não se sabe se a ocupação durou algum tempo, ou se foram apenas
navegantes de passagem pela ilha.
Notas
*
A obsidiana é uma rocha vulcânica de cor negra e aspecto vitrificado,
muito utilizada na confecção de facas, pontas de flecha e outros
artefatos durante o Paleolítico, Mesolítico, Neolítico e Idade do
Bronze. No Egeu, a principal fonte de obsidiana era a ilha de Melos, nas
Cíclades. À direita, um exemplar do Monte Vesúvio, Itália. Mais
informações e imagens em: Obsidian 1, Obsidian 2.
* AP: Antes do Presente.
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